Prelúdio

O sorriso de Pryh não poderia ser maior, ela estava sentada a mesa com seus quatro melhores amigos, dois deles que não imaginava ver juntos tão cedo. A garota chegava até a ficar meio perdida sem saber com quem falar primeiro, porém com tantas novidades de todas as partes a conversa acabou fluindo por sí.
– A propósito, Bell se você não se lembrou ainda, esse é o Henry, agente sempre estava grudado na faculdade. Henry essa é a doida que dividia o apartamento comigo na época de faculdade, e que, quase não era vista porque ficava escondida atrás dos livros.
– É eu me lembro disso agora. – disse ele rindo – Acho que nos falamos bem pouco naquela época.
– Também acho, a única coisa que me recordo é de você arrastando a Pryh do quarto pra ela tomar um pouco de sol.
– Ela já tinha esse mal habito há tempos então. – disse Ryo enquanto terminava de ajeitar a travessa de nhoque na mesa, Pryh havia ido até a cozinha para pegar mais uma taça, prato e talheres para Henry.
– Henry, acho que você vai ter que fazer isso com ela outra vez. – comentou Lele baixo pra que Pryh não ouvisse.
– Sem problema. – disse ele sorrindo um pouco triste – Ela se jogou outra vez no trabalho depois que foi me visitar?
– Infelizmente. – comentou Ryo.
– Não tem problemas, com nós dois aqui vai ser impossível ela se concentrar apenas em trabalho. – Anabell tentou confortar as duas.
Pryh voltou da cozinha colocou os talheres, prato e taça no lugar, e se sentou novamente entre Bell e Henry que trataram de mudar o assunto para algo mais alegre assim que ela chegou. O jantar seguiu, a toda hora eles se lembravam de alguns episódios engraçados da faculdade e até mesmo de coisas que aconteceram depois do termino da mesma. Bell aproveitou para conhecer Ryo e Lele e as duas relembraram a época em que Pryh foi morar com elas.
– Bom agora que todo mundo já jantou vocês dois devem esta querendo descansar não é?
– Não estou cansado não... – comentou Henry
– E, além disso, ainda tem louça pra lavar...
– Bell poder parar, você não vai lavar louça nenhuma... E você também não Henry.
– Mas... – os dois começaram juntos.
– A Pryh está certa, além disso, temos uma surpresa para você Bell. – disse Lele sorrindo como uma criança que aprontou.
– Surpresa? – perguntou a menor confusa.
– GOD é o dia das surpresas ou o que? – Henry brincou.
– Foi ideia da Pryh.
– Não seja modesta Ryo, vocês duas também ajudaram muito.
– O que vocês aprontaram? – perguntou Bell um pouco temerosa, quando a sua antiga companheira faculdade inventava algo geralmente não era nada simples.
– Você vai descobrir logo Bellzinha. – Pryh sorriu diabolicamente e a mais nova ficou ainda mais receosa.
– Henry vem com a gente, se a Bell desmaiar você segura ela também. – brincou Luana fazendo com que Henry seguisse atrás das quatro meninas um pouco sem graça, ele havia segurado Pryh por puro instinto, era sempre assim desde a faculdade, ele sempre a ajudava quando ela estava precisando, mesmo quando não queria isso.
– Nem ligue, depois desses anos eu me tornei a prova de desmaios. – comentou Bell fazendo todos rirem.
– Bell agora fecha os olhos, e os mantenha assim até eu dizer que abra. – a advogada interrompeu.
– Okay, mais olha lá o que vai aprontar em Pryh!?
Priscila conduziu a amiga até o centro do quarto para que ela pudesse ter uma vista ampla do mesmo. Deu alguns passos para trás e disse: – Pode abrir agora, e seja bem vinda ao seu novo quarto.
Quando ela abriu os olhos não pode crer no que via. O quarto estava lindo, e se fosse ela quem tivesse escolhido não teria saído tão perfeito. A parede atrás da cama possuía um tom de roxo não muito escuro, cortados por duas faixas brancas. As outras três paredes tinham o mesmo padrão, porém com as cores invertidas. A cama era de um material metálico escovado de cor prata, assim como os puxadores do closet branco que ficava paralelo à mesma. Essa estava com um lençol de um tom lilás e branco muito cleen, flanqueada por dois criados. Próximo à porta havia uma cômoda que poderia ser usada como penteadeira, visto o tamanho do espelho que havia em cima desta. Um divã de estofado num tom escuro entre roxo e cinza foi posicionado próximo à janela, e para finalizar o quarto possuía um tapete de tom roxo escuro, bastante felpudo, que ocupava metade do cômodo.
– Pryh! Não acredito que vocês fizeram isso. É lindo, perfeito! Ai meu Deus eu tô sem fala. – as palavras saíram num jato, enquanto a médica abraçava Priscila que agora sorria aliviada  – Meninas todas vocês muito obrigada mesmo, eu nem sei o que dizer.
– Então não diga, só abrace – falou Ryo rindo enquanto se juntava a Pryh, Bell e Lele num abraço em grupo.
Henry apenas se recostou ano batente da porta observando a cena, ou melhor, observando o sorriso e a o brilho dos olhos de uma delas, fazendo com que ele mesmo sorrisse involuntariamente. Depois que se soltarem Bell foi até o painel passando a mão pela superfície do mesmo. Ela percebeu que era um painel de metal, mas a riqueza de seus detalhes fazia parecer uma pintura.
– Eu realmente queria poder dizer algo pra agradecer. – ela comentou ainda analisando as flores.
– Não precisa dizer nada, já vimos que você gostou.
– Se eu goste Ryo? Eu amei! Esse painel é lindo, o quarto tem minha cor favorita e os moveis são tão a minha cara que acho que nem eu poderia ter escolhido melhor.
– A pintura foi ideias da Pryh, Ryo fez o painel e eu ajudei a escolher os moveis. – Explicou Kelle se sentando na cama ao lado de Ryo que sorria orgulhosa do próprio trabalho.
– Vocês juntas são realmente um caso sério! – Bell falou enquanto balançava a cabeça.
– Isso é pura verdade – confirmou Henry rindo ainda encostado na porta.
Pryh olhou de um para o outro fazendo careta e disse para Bell terminar de arrumar suas coisas e depois tomar um banho.
Tá bom mãe! Mas, antes me deixa babar mais um pouco. – disse ela se jogando de costas na cama como se tivesse oito anos de idade. Ryo e Lele saíram do quarto e seguiram para a cozinha lavar a louça. Pryh puxou Henry pela mão levando-o para o quarto de hospedes.
– Acho que vai ver que seu quarto mudou um pouco.
– Você ainda insiste na ideia de chamar o quarto de meu?
– Que culpa tenho eu se ele é a sua cara? – disse abrindo a porta e o empurrando pra dentro. – E ai melhor ou pior?
– Hum... – Henry observou cada detalhe do quarto.
O cômodo realmente havia mudado um pouco, a parede próxima à cama agora tinha uma textura cinza um pouco mais escura. A porta que dava acesso a um pequeno closet agora parecia mais a continuação da parede, pois havia ganhado uma textura diferente. A cama de solteiro também havia sido substituída por uma cama de casal e a poltrona que a ladeava foi trocada por uma maior, era cinza chumbo com alguns detalhes coloridos.  No lugar da antiga raque agora havia um estante um pouco maior que tinha algumas miniaturas de carros adornando-a. – Até isso você lembra? – disse ele apontando para um dos carrinhos. >Foto 1<  >Foto2<
– São só detalhes. – disse ela sorrindo.
– Que fazem uma grande diferença. – ele comentou e depois sorriu olhando para ela de um jeito sapeca. – Adorei que você tenha deixado o mesmo carpete e os criados, eu gosto deles, mas a cama ficou bem melhor, tem muito mais espaço agora.
Pryh não aguentou e deu um pedala na cabeça de Henry que resultou nele enchendo a de cócegas. Os dois começaram a rir e acabaram se desequilibrando e caindo na cama.
– Sentia falta disso. – comentou ele ofegando um pouco, ele havia caído por cima de Pryh.
– Eu também, apesar de você ser muito besta.
– Quer mais cócegas é? – Henry ameaçou prendendo os braços de Pryh.
– Okay, tudo bem retiro o que eu disse. Você não é nem um pouco besta.
– Você mente tão mal. – disse ele rindo e dando um beijo na testa da amiga.
– Hey eu não minto mal. – Pryh concentrou todo seu peso e conseguiu virar ficando por cima de Henry, prendendo os pulsos dele da mesma forma que fez com os dela momentos antes. – Agora você que vai morrer de cócegas. – ameaçou ela com uma cara de diabinha.
– Vocês dois tranquem-se aqui ou parem de se pegar! – disse Lele aparecendo na porta e rindo da cena.
– Está tão bom aqui... – disse Henry sorrindo travesso.
– Pryh para de atacar o Henry e vem lavar a louça, anda logo menina. – Lele virou as costas e voltou pra cozinha ainda rindo, o que fez com que a advogada olhasse feio para o rapaz que estava prendendo. Kelle começaria com as antigas insinuações novamente.
Sorry docinho de leite ninho, terei de acabar com você mais tarde. – disse a garota saindo de cima dele.
– Quero só ver, você nem aguenta uma sessão de cócegas e já tá levantando bandeira branca.
– Cocegas pode não ser a pior punição que eu imagino. – respondeu ela indo para a cozinha.
O resto da noite foi todo acompanhado de um ar leve, regado por lembranças da faculdade, que ainda não haviam sido citadas no jantar. Já eram quase duas da manhã quando eles se retiraram para seus quartos, isso porque se lembraram de que no dia seguinte alguns ainda teriam de trabalhar, visto que era sexta feira.


-X-

Lele acordou com um barulho estranho vindo da sala, se levantou rapidamente pensando que alguém poderia ter invadido o local, ao passar pela porta do quarto de Ryo quase trombou com a mesma que também havia se levantado após escutar algo metálico caindo.
– Hey, ouviu algo anormal? –a fotografa perguntou, os olhos já puxados pareciam duas mínimas fendas devido ao sono.
– Sim. – respondeu Lele – Sabe se a Pryh ou o resto dos meninos acordou?
            – Pryh tá dormindo feito um anjo, agora os outros eu não olhei, sei lá como o Henry anda dormindo e não queria incomodar a Bell.
            – Se a Priscila não tivesse dormindo no próprio quarto diria que o pior que poderia encontrar era os dois dormindo abraçado feito duas crianças.
– É isso seria bem provável... Ou não.
A risada baixinha das duas foi interrompida por outro som. Parecia que alguém estava derrubando as panelas do armário. Elas se entreolharam e seguiram cautelosamente para ver quem estava no cômodo. Quando chegaram lá encontraram Henry e Bell fazendo o café da manhã.
– Eu disse que iríamos acabar acordando elas, sou muito desastrada. – a menor reclamou enquanto terminava de fazer algo que parecia ser calda para panquecas.
– Não se preocupa Bell já estava quase na hora de nós acordarmos. Geralmente nós ficamos deitas lutando com a preguiça... – explicou Luana.
– Nós íamos acordá-las quando tudo estivesse pronto. – comentou Henry enquanto colocava mais uma panqueca na bandeja que já estava bem cheia.
– Não se preocupe Mochi... E ai quer ajuda? – perguntou Lele já se encaminhando para perto dele.
– Não! – respondeu ele direto.
– Tivemos a ideia de fazer o café para vocês então não atrapalhem. – Bell emendou no mesmo tom.
– Credo Bell você parece até a Pryh falando. – reclamou Kelle com os olhos arregalados, ela estava começando a ficar com medo da convivência daquelas duas no apartamento.
– Falando nela, quero que me expliquem direito o que aconteceu depois que saiu da faculdade, ela nunca contou o que ouve com o Bryan, todas as vezes que eu tento tocar no assunto recebo uma desculpa.
– O básico você já sabe. Ele é um canalha imbecil. – proferiu Henry rispidamente deixando sua áurea alegre ser consumida por um ódio mortal. – Mas acho melhor ela te contar, agora que estão juntas novamente talvez seja mais fácil, esse não é um assunto que levantaria em uma conversa por telefone.
Henry se virou novamente para a o grill tirando a ultima panqueca deixando as três meninas de boca aberta. Vê-lo quase explodir de raiva só de tocar em um nome não era algo comum.
– Acho que agora está tudo pronto. – comentou Bell depois de alguns minutos de silêncio.
– Então vou acordar a minha pipoquinha doce. – disse Henry depois de lavar as mãos.
– Você não tá mesmo pensando em acordar a Pryh tá? – perguntaram Lele e Ryo ao mesmo tempo.
– Não estou pensando, eu vou, por quê?
– Até eu lembro que ela odeia ser acordada. – disse Bell – Ela fica com um humor terrível, eu sofria horrores na faculdade.
– É porque vocês não sabem como acordar ela com jeitinho. Agora me deem licença. – Henry simplesmente deu as costas as três e saiu rumo ao quarto de Pryh sem se abalar pelas palavras das garotas.
– Isso não vai dar certo. – Bell ainda balançava a cabeça negativamente.
– Na verdade, da outra vez em que ele veio para cá, quando a gente acordava os dois sempre estavam rindo no sofá ou no próprio quarto da Pryh, então acho que ele a acordava antes de nós sequer levantarmos. – comento Ryo após refletir um pouco.
– Isso é verdade, ela sempre estava animada pela manhã. – concordou Lele.
– Ele bem que poderia ter me avisado isso na época de faculdade, assim eu teria levado menos tapas na cabeça pela manhã.
– Henry é egoísta Bell, ele guarda o segredo de “como acordar a Pryh mantendo-se ileso” só para ele. – Ryo não pode deixar de fazer uma piada depois de ver a cara de indignação da mais nova.

-X-

Henry entrou no quarto de Pryh, mas não a despertou imediatamente, antes ficou vendo-a dormir, ele sempre dizia que ela parecia um anjo quando dormia, pois mesmo nas épocas difíceis ela mantinha uma serenidade inabalável durante as horas de sono. E isso não pareceu ter mudado apesar dos anos que se passaram.
Após dar um beijo em sua testa ele se levantou da cama, deu uns dois passos para trás e em seguida pulou bem perto da garota adormecida que acordou instantaneamente puxando um travesseiro para acertar em seu “agressor”. Henry, porém foi mais rápido a puxando pela cintura enquanto desviava da travesseirada que levaria da amiga. Os dois mais uma vez se viram cair de costas na cama, feito duas crianças enquanto ele a atacava com cócegas, mordidas e beijinhos estalados no pescoço e rosto.
– Tá bom! Já acordei.  Agora, por favor, para. – disse ela ainda rindo.
– Certeza? Acho que você ainda está com cara de sono. – ele continuou fazendo cócegas.
– Por favor, docinho de leite niiiinho... – pediu ela tremula de tanto rir
– Okay já acordou. – respondeu ele deitando-se do lado dela e a abraçando enquanto sorria angelicalmente como se não tivesse feito nada – E ai dormiu bem?
– Dormi sim seu pestinha, e você? A cama nova é boa? – Pryh também jogou os braços em torno do amigo.
– Ótima, pude me esparramar todo, e ainda sobrou espaço.... – disse ele sorrindo pentelho, e  caindo na gargalhada junto a Pryh – Bom Pryh agora vai, levanta, a Bell e eu fizemos uma surpresinha para vocês como forma de agradecimento.
– E quando é que combinaram isso que não vi?
– Ontem à noite quando vocês três foram apara a cozinha, a Bell que deu a ideia, acho que ela lembrou-se dos tempos de faculdade...
– Como assim?
– Você já vai entender, agora vem. – disse ele se levantando e puxando-a consigo.

-X-

– Aposto que ela vai bater nele... – comentou Ryo
– Pelas risadas acho que se enganou ele conseguiu mesmo. – disse Lele franzindo o cenho.
Nesse momento Pryh e Henry entravam na cozinha, ainda abraçados e rindo de alguma besteira que ele falou no corredor. Bell, Lele e Ryo ficaram paradas olhando a cena, aquilo era tão estranho quanto ter acordado e dado de cara com Pryh preparando o café da manhã anterior.
– Eu não disse que conseguia. – disse ele sorrindo vitorioso para as três meninas em forma de estatuas.
– Agora pode explicar como você consegue isso. – falaram as três ao mesmo tempo enquanto Pryh balançava a cabeça rindo.
– Hum... Não vou é um segredo que vou levar para o tumulo. – disse Henry sorrindo travessamente de depois começando a gargalhar das caras de frustração das três meninas.
– Você é muito mal Mochi, eu levava um tabefe na cabeça toda manhã na faculdade, e você nem para ajudar. – disse Bell fazendo bico.
Minhae Bell, mas, você nunca me perguntou isso.
– Mas agora estamos perguntando e você não quer dizer. – protestou Luana.
– Não tem por que saber agora, talvez quando eu voltar para Toronto eu digo para vocês. Só não sei se vai dar certo... – rebateu ele olhando para Pryh e rindo.
– É pouco provável. – disse fazendo uma cara estranha só para deixar as amigas ainda mais curiosas. – De qualquer forma fui acordada para tomar café, e eu realmente estou com fome, então vamos deixar a discussão para outra hora.
– Corram porque ela tá com fome e se chegar primeiro não sobra nada! – gritou Ryo, só para implicar.
Aquele foi um dos melhores cafés da manhã que os cinco já tiveram, tudo era motivo para piada. Pryh voltou a desenhar em seus waffles com uma mistura de caldas, coisa que só fazia quando estava extremamente feliz. Depois de todos terem se alimentado Bell e Henry insistiram em lavar a louça tendo quase expulsado Pryh, Lele e Ryo da cozinha. Não tendo mais o que fazer, e estando faltando cerca de uma hora para o horário em que as três iriam trabalhar cada uma das garotas foram fazer algo, Ryo selecionava algumas fotos, Lele analisava o script da nova peça e Pryh se acomodou no sofá e foi chegar seu e-mail, havia duas mensagens, uma era do escritório avisando que houve de imprevisto que causou o cancelamento de suas reuniões, ou seja, ela teria o dia livre, já a outra era da Thêmis.
– Ai Meu Deus! – gritou ela aflita após ler a ultima mensagem.
– O que houve Pryh? – Henry apareceu na sala correndo encontrando uma Pryh jogada no sofá ao lado do notebook.
– Isso. – respondeu ela apontando para o computador com uma cara quem andava assistindo drama de novela mexicana. Henry se dirigiu ao notebook, Bell, Lele e Ryo chegaram nesse momento, então ele resolveu ler o e-mail em voz alta.

“Prezada Srtª Santos,

Através deste venho lhe comunicar que ouve uma mudança na data de sua entrevista, esta  foi remarcada para a próxima segunda feira as 10:00 horas.
 Aguardamos sua presença.
Tenha um bom dia.

Liz Brandom.
Diretora do núcleo de contratações.

– Isso é bom não é? – perguntou ele sem compreender a fisionomia preocupada da amiga.
– Depende do que você entende por “bom”. Esse é um dos tipos de testes da Thêmis. Eles sempre confundem os candidatos com imprevistos desse tipo. Tenho que dizer que estou surpresa por essa tal de Liz não ter marcado a entrevista para hoje à tarde, ou me mandado o e-mail na segunda feira de manhã.
– Você deve ter algum anjo dentro daquela empresa. – disse Lele tentando animar à amiga.
– Talvez. – disse Pryh ainda fazendo bico enquanto Henry a abraçava.
– Não se preocupe pipoquinha doce você vai se sair bem.
Bell e Ryo apenas trocaram olhares questionadores ao ver aquela cena.
 – Eu quero docinho de leite ninho. – Pryh agora parecia um bebê olhando para o amigo com uma cara digna de gato de botas do Sherek.
– Mas o Henry já tá aqui. – Ryo disse sem entender.
– Ela quer que eu faça, esse é um dos motivos de eu ter esse apelido. – disse ele dando um beijo na bochecha da amiga e já se dirigindo para a cozinha.
– Mochi faz o melhor docinho de leite ninho que eu já comi na vida. – disse Pryh com os olhos brilhantes – Melhor até do que o meu, e olha que foi eu quem ensinou ele fazer.
 – Hey Lele, pode me mostrar onde estão os ingredientes?
– Claro Mochi. – disse ela se levantando e seguindo atrás dele.
Ryo e Bell ficarão na sala tentando acalmar Pryh, enquanto Lele e Henry seguiram para a cozinha.
– Ela ficou muito nervosa depois que recebeu o primeiro e-mail. – comentou enquanto procurava pelos materiais.
– A Pryh sempre quis entrar na Thêmis, é normal ela ficar assim, apesar disso ainda me deixa preocupado. É inevitável que ela se lembre da época em que perdeu o estágio por conta do que aconteceu com o Bryan. – Henry cuspiu a ultima palavra.
– Ela perdeu o estagio por causa dele não é?
– Infelizmente, foi uma época difícil, ela parecia outra pessoa.
– Mas felizmente ela tinha você. – disse Lele confortando-o.
– É talvez isso tenha ajudado. – Henry sorriu se lembrando de algo, Lele percebeu que sua teoria estava certa. Aquela amizade tinha mais coisas do que aparentava. – Mesmo agora ela não está cem por cento bem, mas vou vê-la feliz ainda. – aquilo era visivelmente uma promessa que Henry cumpriria custe o que custasse.
O resto do tempo em que eles permaneceram na cozinha foi tomado pelo silencio, tanto Henry quanto Lele tinham coisas em mente. Quando voltaram para a sala, Pryh tinha uma fisionomia um pouco melhor, mas seu rosto se iluminou quando viu o prato de doces que Henry trazia nas mãos, esse por sua vez sorriu ao ver a empolgação da amiga, ela seria sempre a mesma meninona. Ele sentou ao lado de Pryh que já estendia as mãos para o prato, porém Henry o afastou, a menor voltou a fazer bico enquanto o olhava com uma expressão confusa.
– Tem que me prometer que vai se animar, e vai encarar essa entrevista com toda a sua garra. E nada de pensamentos pessimistas, todos aqui sabemos que você é uma candidata de peso.
– De peso nada, mais pareço um palito – disse Pryh tentando mudar de assunto mais parando assim que recebeu um olhar de desaprovação dos quatro – Tudo bem eu prometo, mas você também tem que considerar meu ponto de vista, depois de algumas recusas as pessoas ficam com pouco animo. – disse ela sorrindo triste.
Henry segurou o rosto de Pryh fazendo com que ela olhasse em seus olhos, lançando lhe um olhar significativo. – Não perca a esperança, como pode saber se será recusada sem nem mesmo tentar novamente?
Ryo, Bell e Lele se entreolharam rapidamente, seria impressão ou aquela frase tinha uma mensagem subliminar? Pryh suspirou e o abraçou Henry e logo em seguia tirou o prato de doce de leite ninho das mãos dele.
– Hey! – disse ele fingindo raiva.
– Você fez para mim não foi? – questionou ela com cara de anjo, Henry apenas balançou a cabeça desistindo. – Amoras vocês querem?
Mesmo depois de ter tomado um generoso café da manhã Priscila devorou todo o prato de doce que Henry lhe entregou. Aquela garota realmente era um buraco negro. Por fim Kelle e Luana saíram para trabalhar. Bell disse que teria que acertar os últimos detalhes de sua transferência para a filial da clinica de cirurgia plástica e também saiu pouco depois de praticamente ordenar que a advogada ficasse em casa para fazer companhia a Henry.

-X-

– Está mais calma? – perguntou o moreno ainda acariciando os cabelos da garota que estava aninhada em seu peito, mas prestando atenção na TV que havia ligado momento antes para supostamente ver jornal.
– Se eu falar que estou você vai me fazer sair daqui? – perguntou ela ainda com os olhos fechados o fazendo rir.
– Você sabe que eu não faria isso.
– Então estou sim.
O garoto ficou em silencio, apenas observando-a. Por mais que tentasse não demonstrar ela parecia cansada e mais estressada do que nunca com a entrevista de emprego, O rosto parecia tenso e os ombros rígidos, mesmo agora que ela tentava parecer serena. Além disso, ele poderia aposta qualquer coisa que ela não tirava férias a cerca de um ano e maio, data em que ela foi visitá-lo no Canadá. Apenas para ter certeza ele resolveu tirar sua teoria a limpo.
– Pryh há quanto tempo você não descansa?
– Estou fazendo isso agora não estou?
– Não estou falando disso. Do seu trabalho, a quanto tempo não tem um tempo de folga, de verdade?
A advogada começou a imaginar onde o amigo queria chegar, já que provavelmente ele sabia perfeitamente qual foi a data de suas ultimas férias. E ela tinha de confessar, teve um mês realmente relaxante, apesar de todos os acontecimentos.
– Nem precisa responder.
– Henry, eu não estou precisando de folga agora, além disso, não da para tirar férias agora.
– ‘Não dá’ e ‘não quero’ é bem diferente. Eu aposto, que sua equipe não anda precisando de supervisão. Pelo menos foi isso que me contaram.
Priscila supervisionava o trabalho dos novos contratados da quarta maior associação de advogados de L.A., sendo que a ultima turma de “iniciantes” já estava com quase um ano de experiência. Os processos que ela levava para casa eram apenas para ser vistoriados, pois os novos advogados seriam quem realmente trabalhariam neles. Claro, os casos mais complicados exigiam uma atenção maior, mas atualmente não havia nada que necessitasse de seu olhar constante. Se ela quisesse poderia sim sair de férias.
– Não começa Mochi! – A garota o olhou por um breve segundo, um pedido implícito de que ele não continuasse a falar disso pelo menos por enquanto. Depois voltou a se aninhar confortavelmente do mesmo modo que estava antes. Henry bufou balançando negativamente a cabeça, mas não havia nada que pudesse fazer, não ainda.
Pouco depois do fim do jornal matinal o rapaz começou a sentir suas pálpebras pesarem. Ele não havia dormido o suficiente para descansar da viagem, havia passado parte da noite perdido em pensamentos e lembranças. Quando olhou para Priscila percebeu que ela também adormecera. Levantou-se lentamente carregando-a nos braços e caminhou em direção ao corredor. Iria levá-la para o quarto, mas não queria se separar dela, a saudade que sentira durante o tempo em que não a viu pareceu falar mais alto, então ele seguiu para o próprio aposento. Depositou-a na cama, foi até a janela, fechou as cortinas e se deitou ao lado de Pryh a abraçando. Não demorou muito e ele também adormeceu.

-X-

N/A: Voltando a postar depois de um tempo, não tenho absoluta certeza de quando sairá o próximo capítulo, pois quero terminar de escrever o doze primeiro, já tenho metade pronta, mas deve levar algum tempinho ainda. Anyway, quem passar por aqui não esqueça de comentar e dar animo pra essa autora continuar a escrever.

P.S. Antigo capítulo dez foi juntado ao nove depois da revisão devido ao tamanho e a linearidade. Os outros capítulos foram renumerados.



[Leia o Capítulo 10]






Surpresa em Dobro


Lele estava impaciente olhando para os painéis que marcavam o horário de chegada dos voos. Infelizmente o avião que traria Bell estava com trinta minutos de atraso, o que deixava a garota preocupada, pois temia que Priscila chegasse antes que elas em casa e complicasse os planos que tinham de surpreendê-la. Porém enquanto esperava recebeu uma mensagem da advogada.

“Vou me atrasar um pouco mais, tenho uma pequena surpresa.
Diz pra Ryo que ela deve fazer um pouco mais de nhoque, vou chegar com apetite duplo...
Nem pergunte, e não fique preocupada. Pryh”

Kelle agora podia relaxar, a amiga devia ter tido algum contratempo no trabalho, e depois teria que comprar o vinho. Não estranhou que ela pedisse para aumentar a quantidade de comida porque provavelmente ela nem teria almoçado direito, o que não era nenhuma novidade. Algum tempo depois Lele pode ouvir uma voz feminina ecoando pelas dependências do aeroporto.

“– Atenção: Voo 672 de Nova York desembarque na plataforma sete, voo 981 de Toronto desembarque na plataforma um, voo 563 de Paris desembarque na plataforma três...”

Aliviada pelo fim da espera Kelle saiu de onde estava sentada e foi em direção à plataforma sete, mas no meio do caminho parou, viu Pryh ao longe. O que ela estaria fazendo ali no aeroporto? Será que havia descoberto a surpresa? Antes Lele pudesse chamar por ela, ou segui-la a advogada saiu com alguns papeis em direção aos portões das primeiras plataformas, onde um pouco a frente ficava a saída. Lele presumiu que ela provavelmente teria passado pelo local apenas para acompanhar um de seus clientes, como às vezes costumava fazer. Ignorou esse detalhe e seguiu apressada para o portão sete.
Bell seguiu o fluxo de pessoas que se dirigia até o local onde pegaria suas malas, que por sinal, demorou um pouco para aparecer. Quando finalmente pegou-as na esteira seguiu para o saguão, olhando para todos os lugares a procura de Lele. Seria bem fácil encontrá-la afinal não teriam muitas mulheres de cabelo roxo no local teriam? E como pensou a encontrou quase de imediato, Lele estava parada com uma plaquinha na mão. O nome de Anabell escrito na mesma. Imediatamente a cirurgiã plástica foi andando até ela, se segurando para não correr, mesmo sabendo que só veria Pryh quando esta chegasse do trabalho estava muito ansiosa.
– Olá! Lele!! Ainda bem que te encontrei rápido, ou não ia saber como chegar ao apartamento – disse ela já abraçando Lele, que retribuiu.
– Eu disse que veria te buscar e aqui estou. – respondeu Lele animada. – E aí como foi sua viagem?
– Ótima, acho que dormi a maior parte do tempo. Mas e aí cadê a Ryo? Pryh ainda está no trabalho não é?
– Ryo ficou em casa preparando algo para nós comemorarmos sua chegada...
– A não! Não me diz que já estou dando trabalho pra vocês antes mesmo de chegar!?
– Que isso menina, nem se preocupa. Falando em Pryh, você falou pra ela que viria hoje? – Lele quis ter certeza.
– Não, combinamos de fazer surpresa, eu não podia contar. Por quê? – Bell perguntou confusa. A garota havia tomado o cuidado de informar a amiga que chegaria apenas no domingo.
– Tive a impressão de que a vi aqui no aeroporto, mas acho que me confundi.
– Se foi isso ou não é melhor agente ir logo, se ela estiver por aqui é melhor que não me veja. Ou não vamos ter mais surpresa não é? – falou enquanto olhava para os lados. As duas seguiram para o carro de Lele, enquanto Anabell contava o mínimo das histórias que tinha de Priscila e ela na faculdade.
            
-X-

Pryh esperava ansiosa olhando um dos painéis com o horário de pouso, e a todo o momento checava as horas no relógio. Ela sabia que isso não faria o avião chegar mais rápido, mas era inevitável. Quando anunciaram que o voo estava chegando ela correu em direção à plataforma de desembarque. Pouco tempo depois ela estava na ponta dos pés observando as pessoas que vinham para o saguão.
Assim que o belo moço de cabelo castanho escuro arrepiado a viu saiu correndo em sua direção.
– Não acredito que você veio mesmo me buscar! – disse o recém chegado deixando as malas no chão abraçando Pryh fortemente pela cintura. Os músculos de seus braços denunciavam que ele estivera malhando nos últimos tempos.
– Claro que eu vim, não ia admitir que outra pessoa te buscasse! – disse ela rindo um pouco sem ar, enquanto passava os braços pelo pescoço do rapaz sentindo o aroma almiscarado que ela já conhecia.
– Fico feliz por saber que mesmo que agora você seja uma advogada séria e bem sucedida não tenha esquecido esse jeito de sorrir. – comentou ele dando um beijo no rosto de Pryh fazendo-a corar.
Era sempre assim, ele adorava vê-la vermelha. Ele afrouxou um pouco o abraço, deixando uma mínima distancia entre eles, mas continuou segurando-a enquanto a observava com seu sorriso brincalhão. Ignorando totalmente as pessoas que o observavam, ou o quanto ela ficava vermelha quando ele fazia isso.
– E você não deixou de ser o mesmo exagerado de sempre. – disse ela sorrindo sem graça, também não fazendo questão de que ela a soltasse.
– Eu não sou exagerado. – disse fazendo bico e a encarando como se estivesse bravo, o que resultou em Pryh apertando suas bochechas.
– É sim você é meu exagerando preferido. – ela o abraçou mais uma vez e então se afastou. –  Agora vamos se não as meninas vão pensar que eu me perdi.
– Vamos pra onde? Eu tenho que passar no hotel antes para...
– Hey, hey hey! Pode parar, você vai ficar no nosso apartamento como da outra vez. – Priscila protestou.
– Eu não vou dar trabalho pra vocês de novo. Quero ir pra um hotel, ainda mais,,, – tentou argumentar.
– Você está mesmo querendo me contrariar? – perguntou a advogada parando na frente do rapaz que já vinha puxando duas malas gigantescas, cruzou os braços e o observou com uma sobrancelha levantada e um olhar sério.
– Tá bom, mas não vou ficar dando trabalho pra vocês, só fico se me deixarem ajudar com o que eu puder. – Ele também sabia ser teimoso quando queria.
– Eu vou pensar no seu caso. – disse ela colocando o dedo na ponta do nariz dele e saindo para o estacionamento o mais depressa que podia caminhar sem que parecesse uma criança. Ele começou a rir e tentou alcançá-la carregando a bagagem.
Chegaram até o Hyundai Avante de Priscila respirando com dificuldade, ela abriu o porta malas para o garoto. Enquanto isso ela mandou uma mensagem para Luana dizendo que chegaria logo em casa, apenas teria que passar na adega em que elas costumavam comprar os vinhos. Enquanto isso ele a observava, ela estava linda com aquela roupa, não podia deixar de reparar que a calça social de cintura alta a deixava sexy, principalmente se combinada com a blusa que usava.
– Se importa se passarmos em um lugar antes? – perguntou levantando o olhar.
– Não tudo bem... – falou agora um pouco sem graça, odiava quando ela o pegava observando-a. Presumiu que provavelmente ele estivesse com aquele sorriso abobalhado de sempre, e realmente estava.
– Hey tá a fim de ir dirigindo?  – perguntou fingindo não notar.
– Posso?
– Contando que não vá devagar. Tome – falou ela estendendo as chaves.
– Não vai ser problema. – disse o rapaz sorrindo enquanto pegava as chaves e dava um beijo no rosto de Pryh. – Por aqui mon chéri. – ele a conduziu com uma mão nas costas e abriu a porta do passageiro para que Pryh entrasse. Essa se sentou no banco rindo muito.
– Que foi? Não posso agir como um cavalheiro? – perguntou injuriado por ela estar rindo.
– Pode mon cher.
Ambos começaram a rir, o garoto sentia fala daquela risada, era espontânea e às vezes estranha mas incrivelmente relaxante. Ele se sentou ao banco do motorista ligou o carro e partiu enquanto Priscila explicava o caminho da adega. Quando chegaram ao local demoraram certo tempo para escolher os vinhos, pois o rapaz ficou se divertindo enquanto se passava por um sommelier[1] que indicava os melhores vinhos da casa para a garota. Informando quais se destinavam aos vários tipos de comidas, e os de buquê mais suaves para apreciar uma massa.
No final deixaram o local com três garrafas de Merlot[2], por sinal brasileiro, o Salton Desejo, safra de 2005, a qual segundo a própria Priscila fez questão de informar ao amigo foi considerado um dos melhores Merlot do mundo em uma degustação as cegas no Concurso Internacional de Vinhos Bacchus 2008, realizado em Madri. Tal informação fez com que o rapaz a chamasse de enciclopédia ambulante, coisa que ela  não gostou muito, visto que deu no braço dele. Os dois voltaram ao carro, dessa vez Pryh não precisou indicar o caminho, então seguiram rapidamente para casa.
-X-

Anabell mal havia pisado no interior do apartamento quando Luana chegou abraçando-a. Fazendo com que Lele começasse a rir muito ao imaginar como ela conseguiu guardar o segredo no tempo em que falou com Priscila. Depois de muito alvoroço as duas finalmente se cumprimentaram normalmente.
– Desculpa minha empolgação é que a Pryh falou tanto de você nos últimos dias que até parece que já te conheço a eras. – comentou Ryo ajudando Bell com uma das malas.
– Não, tudo bem, me sinto do mesmo jeito. Ela sempre fala de vocês por e-mail e telefone.
– Bem ou mal? – perguntou Lele alarmada fazendo todas rirem.
– Bem né! – disse Bell.
Luana e Kelle pegaram sozinhas as malas de Anabell temendo que esta visse o quarto antes que Priscila chegasse. Nem o fato de ela ficar super feliz com a vinda da amiga as livraria de ter revelado a surpresa antes da hora, então acharam melhor não correrem o risco. Anabell fez menção de ajudá-las, mas assim que chegou ao corredor Lele a barrou.
– Desculpa Bell, mas se você entrar naquele quarto sem a Pryh aqui a gente vai virar pasta de missô. – ao ver a falta de entendimento nos olhos da mais nova Lele continuou – Não precisa se preocupar, a Pryh não vai ser a única a ter uma surpresa hoje. Enquanto Kelle falava com a mais nova moradora do apartamento Luana aproveito para colocar as malas no interior do quarto e fechar a porta rapidamente para que Bell não pudesse se quer ter um vislumbre do lugar.
– Falando nisso, Lele, você recebeu alguma mensagem dela?
– Sim, disse que ia se atrasar, que iria ter uma surpresa e que era pra você aumentar a quantidade de nhoque.
– É recebi uma mensagem assim também, no começo pensei que ela tinha descoberto sobre você. – disse ela olhando para Bell – Mas depois de pensar achei meio difícil. Agora só queria saber o que aquela criatura tá aprontando.
– Vamos descobrir logo. – disse Lele olhando o celular e virando-se novamente para as meninas tentando imaginar o que Pryh estaria fazendo. – Ela mandou outra mensagem dizendo que chega daqui a cinco minutos.
– Vocês a mandaram avisar quando ia chegar? – perguntou Bell.
– Essa é a parte estranha. Não falamos nada, agimos o mais normal possível pra não dar bandeira. Até eu tive que conter minha empolgação o dia todo.
– Não sei nem como não falou nada. – Lele tentava não rir. – Agora, Bell quando ela chegar, nós ficaremos na cozinha como fazemos normalmente e você vai se esconder no quarto da Pryh, quando ouvir a voz dela é só entrar na porta do armário que eu vou te mostrar.
As três seguiram para o quarto da advogada e mostraram onde Anabell poderia se esconder, depois seguiram pra cozinha, aproveitando para arrumar os últimos detalhes do jantar. Menos de cinco minutos depois Pryh abriu a porta do apartamento, toda contente e cantarolando uma música do Jason Mraz. Ela apenas encostou a porta olhando significativamente para o amigo que esperaria do lado de fora.
– Hey meninas cheguei! – gritou ela após deixar a sacola de vinhos escondidas dentro do armário de casacos que ficava na saída do apartamento
– Garota porque demorou tanto? – perguntou Lele que vinha da cozinha, disfarçando acara suspeita.
– Passei na adega ora! Acabei demorando porque um sommelier muito fofo me ajudou a escolher os vinhos.
– E cadê os vinhos? – perguntou Ryo também saindo da cozinha.
– Ih! Espera ai deixei do lado de fora do apartamento quando fui pegar minhas chaves. Não se movam eu já venho.
Ryo e Lele assentiram e foram se sentara no sofá rindo da maneira estabanada de Pryh. Essa por sua vez, assim que fechou a porta do apartamento pode rir internamente imaginando as cenas que viriam a seguir.
– Prontinho, vem comigo e não faça nenhum barulho. – disse ela pegando o amigo pela mão.
Ele se posicionou um pouco mais pra trás de Pryh de modo que o mínimo corredor que existia antes da sala do apartamento fizesse com que não fosse visto mas pudesse ver a cena. Pryh fez um sinal para que ele esperasse.
– Não encontrei os vinhos. – disse Pryh sentando-se na poltrona do outro lado da sala com a cara triste.
– Tudo bem Pryh agente volta lá e compra outro. – disse Kelle ignorando totalmente que aquilo era uma situação sem nexo.
– Calma deixa eu termina. – Disse Pryh fazendo bico. – Não achei os vinhos, mas achei algo melhor.
Pryh abriu um sorriso enorme e olhou para um ponto atrás das costas das meninas onde se via um belo rapaz todo sorridente olhando para elas com cara de quem aprontou. Em um primeiro momento as duas garotas ficaram sem ação, não esperavam ver aquele belo rapaz em seu apartamento tão cedo.
– Ai meu Deus, HENRY! – Kelle deu um grito ao ver o rapaz, em seguida saindo correndo para abraçá-lo, Luana fez o mesmo.
– Hey, desgrudem do meu docinho de leite ninho! – disse Pryh depois de quase dois minutos de gritos, abraços e sorrisos.
– Já começou os ataques de ciúmes cedo. – Ryo balançava a cabeça, rindo da cara da amiga, que fez um bico enorme. – Garoto agora conta, o que tá fazendo aqui? Porque não nos ligou dizendo que vinha? A quanto tempo chegou?
Henry começou a rir.
– Uma pergunta de cada vez. Bem, eu vim porque tenho que resolver alguns assuntos da empresa pendentes aqui em Los Angeles. Cheguei agora à tarde. E não avisei porque a Pryh disse que queria fazer uma surpresa.
– Ah é então quer dizer que você estava armando dona Pryh? – Lele começou correr atrás dela fazendo com que a mesma fosse se sentasse no sofá do lado de Henry.
– Não briga com ela Lele. – disse ele a abraçando – Eu também gostei da ideia.
– Aff esses dois juntos são um problema. – reclamou Ryo. Pryh colocou língua pra ela e Henry não teve como reprimir um palmface.
– Ai, Henry espera ai, os vinhos.
Pryh foi correndo até o armário e já ia em direção Ryo se levantou rapidamente para ajudá-la a colocar os vinhos no freezer para que gelassem mais depressa. Enquanto isso na sala Lele explicou para Henry que elas também tinham preparado uma surpresa para Pryh.
– Bom acho que agora vou tomar um banho. – disse Pryh voltando da cozinha e encontrando Lele e Henry com caras suspeitas, mas não deu bola, afinal eles sempre ficavam fazendo brincadeiras o tempo todo.
– Pryh acho melhor ver seu closet tem alguma coisa errada nele. – disse Lele.
– Como assim alguma coisa errada? – perguntou a advogada prestes a entrar em pânico.
– Vamos lá que eu te mostro. Henry, Ryo vem também.
Assim que entraram no quarto Pryh pode ouvir um barulho estranho na quarta porta do closet, só que o que intrigante foi o fato de que naquela parte não havia quase nada guardado. Sem pensar duas vezes ela abriu a porta do armário e deu um grito ao perceber que Bell estava escondida ali. A advogada teve de se segurar para não chorar de emoção. Bell por sua vez também saiu gritando e abraçou a amiga que não via pessoalmente a séculos, os olhos brilhando e um sorriso enorme nos lábios. Assim que se soltaram Pryh ficou parada olhando sua amiga.
– Bell é você mesmo? Que tá fazendo aqui?
– Sim sou eu. Eu vim.. – antes que terminasse a frase Pryh caiu para trás, só não chegou a se estatelar no chão porque Henry foi mais rápido e a segurou. – Ai meu deus matei minha amiga!
Ryo abraçou Bell, Lele correu para o banheiro e Henry colocou Pryh deitada na cama dando leves tapinhas para que ela acordasse. Embora Anabell fosse médica a mesma acabou sem ação com o desmaio da amiga. Talvez seja por isso que a maioria dos médicos não costuma tratar parentes e amigos próximos, seja como for, Kelle foi mais ágil, seguiu até o banheiro e pegou um algodão embebido em álcool, enquanto Henry deitou a garota na cama. Assim que colocou o algodão na frente do nariz de Pryh essa fez uma careta e abriu os olhos.
– Cadê a Bell? – perguntou ela se sentando de repente, fazendo com que todos rissem.
Bell saiu correndo e pulou na cama abraçando a amiga.
– Da pra não me matar do coração? – perguntou ela ainda agarrada a Pryh.
– Desculpa mais foi muita emoção. – disse Pryh de um jeito engraçado fazendo com que fosse impossível que as expressões preocupadas dos amigos se perpetuassem por mais tempo.
– Ela voltou ao normal. – comentou Ryo se sentando a cama junto com a amiga.
– Agora vocês três se expliquem! Bell você não ia vir só no domingo?
– Na verdade liguei para perguntar se eu podia vir hoje, a Lele disse que você tinha saído mais cedo para o trabalho, e comentou que eu poderia vir, e aqui estou eu.
– Vocês duas só aprontam! – disse Pryh olhando de Ryo pra Lele.
– Só nos não é? E você e o Henry? – Perguntou Ryo olhando de Pryh para o moreno.
– Hey, eu só liguei pra ela avisando que estaria chegando hoje e ia ver vocês.  E nem reclamem porque as duas gostaram da surpresa. – contestou Henry que estava sentado do lado direito de Pryh.
– Melhor agente ir comer! – Propôs Kelle. Todos se levantaram e foram para a sala de jantar, para colocar o assunto em dia. Ryo e Lele explicaram tudo sobre a trama de surpreender Pryh. Kelle também comentou que tinha visto Pryh no aeroporto na hora que ela foi buscar Henry, e a ultima esclareceu tudo sobre do telefonema de Henry dizendo que estaria chegando e também falou do pequeno “passeio” dos dois a adega.


[1] Sommelier (pt br) ou escanção (pt eur) é um profissional especializado, encarregado em conhecer os vinhos e de todos os assuntos relacionados ao serviço deste. Adicionalmente, cuida da compra, armazenamento e rotação de adegas e elabora cartas de vinho em restaurantes.
[2] Merlot é uma casta de uva tinta, fruto da Vitis vinifera. O Vinho Merlot é encorpado, intensamente frutado, complexo, uma harmônica estrutura com perfeito equilíbrio. Apresenta uma cor vermelho-púrpura, seus aromas são densos e frutados, tendo uma boa evolução, deixando assim seu aroma com muita complexidade. O paladar é rico, macio, perfeitamente equilibrado, sedoso e de grande classe.



[Leia o Capítulo 09 ]