Músicas citadas no capítulo:
Vídeo Inspiração da aula de dança |



Convivência


Priscila batia os dedos no volante impaciente. Já passava do horário do jantar e ela estava preza no trânsito. Calculando mentalmente a velocidade com que os carros seguiam pela avenida ela ainda demoraria no mínimo meia hora para chegar ao seu prédio. Seu celular apitou, avisando que ela recebera uma mensagem. Seu dia realmente não podia ficar pior. Pensou ao ouvir as constantes buzinas de outros motoristas que também deviam estar loucos para chegar a suas casas. Depois de um mês desde que começara a trabalhar na Thêmis, ela começava a sentir sinais de estresse.  Sua quarta feira havia sido tomada por quatro casos. Os que ela cuidou pela manha correram até bem, mas o ultimo realmente a cansara.
Seu cliente, um acionista de uma construtora famosa nos Estados Unidos “resolveu” que a esposa estava o traindo e quis por fim ao casamento de sete anos. Como de praxe a cônjuge alegou que era o marido quem era infiel na relação, e só para variar um pouco os dois brigavam por quem ficaria com a maior parte dos bens. Depois de muita divagação conseguiram chegar a um acordo parcial, no entanto outra audiência foi marcada para resolverem os detalhes finais. Priscila desconfiava que o juiz também estivesse estressando com todas as interrupções e deu fim a audiência.
A advogada riu sozinha ao se lembrar da esposa quase saindo no tapa com o marido do lado de fora. No momento ela tinha de agir como uma profissional, mas agora podia se divertir um pouco. E também lembrar-se do próprio “trauma”. Um dos motivos para que a levava a fazer caretas quando alguns conhecidos de sua adolescência lhe perguntavam se ela já havia casado eram as gafes que ela costumava presenciar em tentativas de conciliação de bens pelos casais que estavam se divorciando. Como costuma dizer “casórios davam trabalho no inicio, e eram piores se tivesse um fim”.
Quando finalmente chegou e estacionou seu carro – em outra vaga porque a sua estava novamente ocupada pelo maldito Audi – já passavam das nove da noite. Ela estava faminta,  morrendo de sono e ainda mais furiosa. Tentava se acalmar um pouco para que não fosse metralhada de perguntas enquanto entrava no elevador, segundos antes da porta se fechar o alarme do carro mais odiado do prédio – pelo menos por ela – foi acionado e ela pode ver um rapaz se dirigindo à porta do motorista.
Apertou freneticamente o botão que reabria a porta do elevador, mas ele não funcionou, A porta se abriu no andar superior e ela saiu do elevador pegando as escadas – já que agora o elevador subiria ao seu andar para depois voltar. No entanto quanto chegou novamente ao estacionamento Audi já passava pela rampa de saída. Resignada e bufando ela voltou a esperar pelo elevador rumo ao seu andar.
Abriu a porta com um estrondo maior do que o necessário. Sua coordenação motora sempre resolvia dar um passeio quando ela estava estressada. Com o barulho as garotas que estavam na sala comendo pizza se assustaram.
– Pryh eu juro que nós tentamos te esperar, mas já estávamos morrendo de fome. – falou Bell pensando que a raiva da garota era direcionada a eles, o que fez com que todos, inclusive Priscila rissem.
– Vocês não precisam se preocupar contando que tenham guardado pelo menos quatro pedaços para mim. – falou ela com o humor um pouquinho melhor.
– Na verdade o Henry escondeu uma pizza inteira na cozinha. – dedurou Ryo.
– Foi por questão de sobrevivência. – o único homem da casa se pronunciou rapidamente.
– Tá me chamando de comilona é? – ralhou a advogada, mas antes que Henry respondesse ela já havia deixado a bolsa em cima do aparador e se dirigia a cozinha. – Onde você guardou?
– Dentro do forno. – respondeu ele, e depois de olhar para as duas caixas vazias em cima da mesa de centro emendou em um grito – E eu vou querer mais um pedaço de comissão!
Sua única resposta foi à risada alta da advogada e três tapas na cabeça do resto das garotas. Menos de cinco minutos depois Pryh voltou para a sala com outra pizza, ketchup e Coca-Cola. Agora sim seu humor melhoraria. Pelo menos foi assim até que ela informar que ia dormir e se gabar de que teria o dia seguinte praticamente de folga e Luana a lembrar de algo desagradável.
– Não esquece que amanhã é sua primeira aula com o DongHae. Dez e meia da manhã. E dessa vez não vai poder me enrolar.
A fotógrafa gritou quando Pryh estava prestes a abrir a porta do próprio quarto. Ela parou com a mão na maçaneta. Havia apagado aquele “compromisso” de sua mente. Mas não havia como fugir. Depois de um suspiro de desgosto ela apenas murmurou um “não vou me esquecer” e bateu a porta.

-X-

Quando a advogada abriu os olhos não pode evitar um gemido, pela janela pode ver o céu cinzento e chuvoso. Ela adoraria ficar até depois das dez na cama, no entanto graças a sua ideia idiota com a aposta e a insistência de Luana ela teria que deixar seu edredom quentinho e a maciez de seus dois travesseiros e almofadas com os quais ela dormia abraçada. Já estava quase voltando a dormir quando as batidas altas de ‘Ignorance – Paramore’ ecoaram pelo quarto. Ela sentou-se assustada, por pouco não virou para o lado errado e caiu. Seus olhos procuraram a origem do som até que localizou o próprio celular em cima da escrivaninha. Aos tropeços, por causa do sono,  levantou-se para parar com todo aquele barulho.
Mentalmente se perguntou se havia mudado a campainha do aparelho, mas não se lembrava de ter feito isso, e muito menos de tê-lo deixado tão longe da cama. Ao pegá-lo percebeu que não se tratava de uma chamada e sim de um lembrete.

“Boom dia sunshine! Sei que você não ia acordar, principalmente porque está chovendo, então achei melhor colocar uma música animada para que você possa começar o dia *alegre* e ter tempo de se arrumar para a aula.
P.S. NEM PENSE EM FALTAR! XX Ryo”

Priscila revirou os olhos com o recado. Como sabia que todos já haviam saído para trabalhar mandou uma mensagem para a amiga agradecendo-a por um quase enfarte. Poucos segundos depois o aparelho vibrou com a resposta:

“Na próxima vez eu procuro por algo mais calmo, ou te aviso.
Assim você não tem desculpa para não ir à aula por estar infartada! Divirta-se!”

Depois de olhar tristemente para a própria cama seguiu um pouco emburrada para o banheiro. Tomou um banho demorado, aproveitando para experimentar dois sais de banho que havia comprado recentemente. Vinte minutos depois quando saiu da banheira, se secou e enrolou uma toalha no corpo seguindo para o closet a procura de uma roupa adequada para a aula. Sem nem mesmo perceber ela estava nervosa com o que vestir, havia colocado uma legging com a qual costumava correr e uma camiseta, quando se olhou no espelho não gostou muito. Tirou a roupa e jogou sobre uma poltrona, e pegou um conjunto composto por uma calça preta e uma blusa no mesmo tom mas com detalhes em rosa cujas mangas iam até a metade do antebraço. Parou de frente o espelho e fez cara de desgosto, estava parecendo uma ‘tia’ com aquela roupa.
Quando estava tirando a calça do conjunto uma voz no fundo de sua mente a questiono o motivo de estar tão preocupada com sua aparência. Já que até onde ela sabia estava com “birra” do professor. Mandando sua consciência calar a boca e argumentando que não podia aparecer no clube sem estar apresentado como respeito às pessoas que o frequentavam ela voltou a procurar uma roupa que lhe agradasse. Por fim acabou decidindo-se por uma calça cinza com bolsos laterais e no bumbum e uma blusa preta de listras horizontais brancas.
Dessa vez quando se olhou no espelho não ficou totalmente insatisfeita, mas ainda sentia que faltava algo. Amarrou o cabelo num rabo de cavalo baixo e colocou uma boina preta com letras branca espalhas. Sabia que teria que tirá-la quando fosse dançar, mas não queria desfazer-se do acessório. Depois escolheu um par de brincos de lacinho e um colar que ia ate pouco abaixo de seus seios, também com o tema laço. Estava quase pronta só faltava um tênis. Depois de ver suas opções ela acabou optando com um All Star preto.  Passou mais uma vez em frente ao espelho para conferir o resultado e finalmente aprovou o seu look. Para não sair com a “cara lavada” fez uma maquiagem bem leve, usando o mínimo de produtos possíveis, e deixando os olhos apenas com lápis e mascara, pegou uma colônia floral e jogou no ar passando pela “nuvem” logo em seguida. Assim ela não corria o risco de ficar com um odor ruim por exagerar na dose, mas também não ficava sem nenhum perfume.
Minutos depois enquanto preparava seu café agradeceu mentalmente Ryo por tê-la acordado cedo. Havia gastado mais tempo que de costume para se arrumar. Antes que aquela voz voltasse Pryh botou a culpa do atraso no fato de que enrolara no banho e que ainda estava com sono. No fundo ela sabia que não era esse o caso, mas ignorar era a saída mais rápida.

-X-

Ainda eram dez e cinco quando Pryh estacionou seu carro no estacionamento do Posiedon’s Club, estava adianta e não queria parecer ansiosa, embora os dois fossem verdade. Ela não sabia muito bem o que esperar da aula, mas ao menos de uma coisa tinha certeza, não queria dar a DongHae o gosto de tirá-la do eixo, pelo menos não visivelmente.
Caminhou rumo à sala de dança, mas no meio do caminho recebeu outra mensagem. Dessa vez de Anabell desejando que a aula fosse boa e que a amiga não matasse seu professor. Priscila riu, mandando um SMS de volta prometendo tentar. Depois de enviar a advogada deu uma olhada nas horas e decidiu que era melhor fazer uma pausa na cantina, conversando com JaeJoong .
Enquanto rumava para lá vagarosamente uma parte de si reclamava que não haveria problema nenhum em se alongar um pouco antes da aula. Antes que a advogada pudesse mandar essa vozinha calar a boca pode ouvi-la comemorar. DongHae estava sentado com Jae na mesa. – “Traíra!” – gritou em pensamento quando tentou passar de fininho e o amigo levantou a mão para chamar sua atenção, o que consequentemente fez DongHae olhar para traz.
– Bom dia senhorita adiantada. – brincou Jae enquanto ela se aproximava, ele estava se divertindo mais que o necessário com a expressão mortífera da menor. – Vejo que estamos com os ânimos alterados hoje.
Antes que Priscila respondesse JaeJoong a puxou para um abraço, sussurrando um “parece nervosa” em seu ouvido. A garota tratou de melhorar a expressão, mesmo não tendo certeza do tipo de nervosismo ao qual Jae se referiu ela tinha certeza de seu tom de voz sacana. Quando se livrou dos braços do rapaz ela finalmente olhou na direção de DongHae, que tomava seu suco despreocupadamente como se visse essa cena todos os dias. Sem nem mesmo perceber Pryh se irritou com isso.
– Olá – disse com um sorriso educado e se levantou logo em seguida. – Tenho que ir andando, então até mais.
– A Ryo e você vão me pagar! – Ameaçou ela assim que DongHae estava distante.
Jae gargalhou enquanto passava um suco para a amiga. Sua feição endureceu um pouco ao lembrar-se que Luana vinha evitando-o nos últimos tempos. Priscila o observava de olhos serrados, já imaginava no que JaeJoong estava pensando. Havia notado o comportamento estranho da amiga, o porquê a garota estava agindo assim ela não tinha certeza... Ainda. Mas aquela era uma ótima chance para descobri.
– Hey Jae, quando vai marcar o jantar? – perguntou como se não queria nada.
– Acho que só depois de você cumprir sua parte. – falou ele olhando para qualquer lugar menos os olhos de Priscila. Não queria que ela notasse seu ressentimento. Embora estivesse claro que ele falhava.
– Humm... E... – ela começou falar mais o rapaz levantou-se.
– Pryh acho melhor você ir para sua aula, tenho que chegar antes das minhas aulas então vou andando. – Ele deu um beijo na testa da garota. – Divirta-se... – falou ele no mesmo tom sacana de antes.

-X-

Priscila estava entrando na sala quando teve a segunda surpresa desagradável do dia, DongHae conversava animadamente – até demais – com a garota que estava com ele na cafeteria. Pelas roupas de ginastica que ela vestia parecia que também iria participar da aula. A advogada pensou em ir até a secretária e remarcar o horário alegando uma emergência de ultima hora, mas antes que desse mais um passou uma morena baixa, mas de presença inegável gritou seu nome. Chamando a atenção de todos para Pryh.
– Ai meu deus Leigh o que você está fazendo aqui, e NY? – perguntou a advogada enquanto era abraçada pela menor.
– Estou de férias e resolvi ver minha casa em San Fernando Valley, liguei para Luana e ela disse que você estava aqui, daí mexi uns pauzinhos e consegui me juntar a aula. – a garota se aproximou de Pryh colocando a mão na boca com um ar conspiratório. – Só que ela se esqueceu de informar que o professor é um gato.
Leighton Marissa pode parar já com isso, já tenho que aguentar a Ryo e a Bell, você também não. – ralhou ela.
Antes que a outra pudesse retrucar dizendo que conhecia aquele tom de voz DongHae chamou atenção dos presentes para começarem a aula. Priscila assumiu seu lugar, ao fundo da fila tripla de garotas. Leigh lançou lhe um olhar curioso enquanto se posicionava ao lado da advogada para alongar-se, mas a ultima a ignorou. DongHae mostrou os exercícios de aquecimento e passou a caminhar pela sala, corrigindo vez ou outra a postura das garotas. Thiarlley estava sendo a mais desajeitada com isso Dong se demorou ao seu lado e como o professor não perdia uma piada teve que zuar a mais nova, a garota foi tentar dar-lhe um tapa e acabou escorregando e se não fosse por DongHae ela teria se estabacando. A sala toda riu baixinho, com exceção de uma pessoa. Leigh que estava atenta à garota ao seu lado acabou rindo ainda mais.
– O que é tão engraçado? – Priscila perguntou baixinho. Mas antes que a outra pudesse responde DongHae estava atrás de si.
– Tente flexionar só um pouco mais. – falou ele posicionando as mãos nas costas da garota e empurrando seu troco para frente fazendo-a tocar as pontas dos pés. Priscila não conseguiu dizer nada, pois se surpreendeu com a aproximação do professor. – Viu assim. – ele sorriu e passou para a aluna da frente.
Leighton dessa vez não conseguiu conter a gargalhada, ganhando atenção de toda a sala e um olhar metralhador da amiga. Mas isso não a impediu de continuar com a feição divertida. Nunca tinha visto a advogada tão embaraçada pela simples presença de um cara. E com toda certeza ela iria saber o motivo. DongHae pigarreou tentando chamar a atenção das garotas e começou a ensinar alguns passos. A musica escolhida foi “Because of You” do Ne-Yo.
Por mais que odiasse admitir a advogada se divertiu bastante no decorrer da aula, pelo menos nos momentos em que não estava com vontade de estapear Thiarlley por monopolizar a atenção para sí. Leigh não parou de importuná-la e com isso o professor teve de pedir atenção algumas vezes. Enquanto ele executava a parte final do refrão a frente da sala Priscila lembrou-se da noite em que o vira pela primeira vez, da leveza que sentiu só de vê-lo dançar, agora isso se repetia, entretanto a sensação era ainda melhor.
Ela desviou os olhos dos movimentos do rapaz e fitou o reflexo do mesmo no espelho. Titubeou. Ele a observava, e sua expressão serena era perigosamente convidativa. Incapaz de desviar o olhar ela continuou tentando manter os passos, mas sem querer acabou esbarrando em uma loira que estava ao sua esquerda, caindo e levando a mulher junto. Assim que percebeu o que aconteceu a garota fez um pequeno escândalo, condenando a falta de atenção da advogada que tentava inutilmente se desculpar com a loira. Enquanto isso Leighton ria alto, as outras mulheres alternavam suas feições entre surpresa e cansaço. DongHae por outro lado estava nervoso com o tumulto.
– Senhoritas acalmem-se! – gritou ele chamando a atenção de todas. A garota loira lhe lançou um olhar de desprezo e saiu da sala batendo a porta. – Acho que é melhor terminar por aqui. Estão dispensadas. – concluiu um pouco frustrado.
Enquanto as outras garotas iam saindo, Thiarlley foi até o rapaz e começou a pedir que ele fizesse alguns passos que o professsor havia mostrado para ela antes da aula. Vencido pela insistencia da garota ele mostrou novamente e ela começou a imitalo quase perfeitamente entre algumas risadas.
– Eu conheço esse olhar. – Leighton provocou a amiga, estava com um sorriso malicioso nos lábios.
– Não conhece nada, okay? Melhor irmos embora. Tenho algumas horas antes de ir para a assistência judiciaria. – rebateu Pryh juntando suas coisas de qualquer maneira e tacando dentro da sacola.
– Então anda logo, aproveita que a aula terminou mais cedo e vamos almoçar naquele restaurante que eu adoro. – a outra mal deu tempo para que a advogada respondesse e já saiu puxando-a rumo ao vestiário, onde tomaram uma ducha rápida, trocaram de roupa e seguiram cada para seu próprio carro.
Henry chegou ao clube quinze minutos depois, foi procurar por JaeJoong a única pessoa conhecida no local, e, que certamente saberia onde a amiga estava. Com toda a ansiedade por não ter visto o carro de Priscila ele seguiu a passos largos até o local que a recepcionista disse que o professor estaria. Com a pressa acabou esbarrando numa garota que dobrava o corredor o qual ele virou. A bolsa dela caiu ao chão derrubando o conteúdo. O garoto mal esperou pela reação da menina e já foi se abaixando, juntando os objetos espalhados enquanto murmurava um pedido continuo de desculpas. Só após organizar tudo e se levantar com o braço estendido para devolver a bolsa para a dona ele percebeu que a mulher que o olhava com uma fisionomia divertida era a mesma que ele havia visto no outro dia.
– Hum, Thiarlley? – exclamou ele surpreso, a garota sorriu ao ver o outro se lembrava do seu nome, isso fez com que o rapaz se sentisse estranho, mas de um jeito agradável.
– Olá, Henry, certo? – falou e ele assentiu. – Veio procurar por sua amiga? – arriscou um palpite, o que fez com que ele se lembrasse do real motivo da visita ao clube.
– É... Eu vim... Mas não a vi. Pera aí, como você sabe? Por acaso a viu?
– Hum sim, ela estava com uma amiga na aula. – ela riu lembrando-se do quanto havia se divertido apenas observando os acontecimentos. – Mas, acho que ela já foi.
– Como assim? – replicou ele sem conseguir disfarçar sua frustração. Deveria ter comentando com ela sobre os planos do almoço. – Faz muito tempo?
– Mais ou menos, a ouvi conversando com uma garota, parecia amiga dela, acho que foram almoçar. – explicou ela, observando a fisionomia do garoto mudar aos poucos de frustrada para carrancuda – Algum problema?
– Talvez, eu fiz reservas num dos restaurantes que ela adora, mas como não havia a avisado acho que perdi tempo. – disse ele fazendo um bico, o qual Thiarlley achou muito fofo.
– Hum, que pena, vai ter que desmarcar então. Falando em restaurante eu preciso ir procurar um. Então até mais. – a garota se despediu e saiu andando.
Henry estava bravo com a amiga, e agora teria de esperar até a noite para conseguir saber como foi àquela maldita aula. Ele bufou e também seguiu rumo a siada. Foi ai que teve uma ideia e novamente saiu andando a passos apressados, dessa vez rumo ao estacionamento.
– Hey Thiarlley!  – gritou a garota que estava entrando no taxi. – Que tal ir almoçar comigo? – a pergunta saiu um tanto hesitante, ele sabia que não erar normal convidar uma desconhecida, mas ela estava mesmo procurando por um restaurante, então não devia haver mal algum nisso.
– Hum... – ela pensou alguns segundos e então balançou a cabeça afirmativamente – Pode ser. – respondeu finalmente e virou-se para o taxista dispensando a corrida.
Henry abriu um sorriso enorme e seguiu com a garota rumo ao próprio carro.

-X-

SiWon passou a manhã inteira observando o comportamento de HeeChul, o rapaz parecia determinado a tirar a fotógrafa nova do sério. Em principio até parecia uma situação normal, mas havia algo na formar como o rapaz escolhia as palavras ou a provocava que era um pouco diferente do padrão com que ele costumava agir ao irritar outras pessoas, como Kelle por exemplo. Nem sempre ele fazia de propósito, mas com a loira HeeChul parecia procurar os detalhes que mais a irritassem. Uma atitude um tanto interessante se levassem em consideração que geralmente ele não se dava muito trabalho para “causar.” Mas quando perguntando a ele o que estava acontecendo o mesmo apenas desconversava.
– Aqui está o que me pediu. – um baque surdo de papeis sendo jogados sobre a mesa de madeira, fez com que o moreno se assustasse, sobressaltando-se na cadeira. – Vê se melhora sua atenção, se continuar com a cabeça na lua como está o balanço vai sair todo errado.
Kelle, naturalmente deixou a sala não se dando ao trabalho de esperar uma resposta. Ela sempre agia dessa maneira, repelindo SiWon, que por sua vez ainda não entendia o que fizera para ganhar tal tratamento. Às vezes chegava a pensar que preferia que ela brigasse com ele, gritasse e criticasse seu trabalho como fazia com HeeChul, ao ter a versão ‘Dama de Gelo’. Se ele bem se lembrava a ultima conversa que eles tiveram ocorrera a mais de um mês, justamente quando ele lhe perguntara se era só com ele que ela agia daquele modo.
Mas, a verdade é que ela estava bem longe de ignorar totalmente a presença do rapaz. E para deixá-la ainda mais frustradas a produtora ainda vinha notando alguns aspectos da personalidade do rapaz que lhe eram inegavelmente agradáveis. Como o fato da total atenção que ele tinha para com suas tarefas, ou com as pessoas que estava conversando.  Ele também conseguia ser educado, mas sem perder o bom humor, fazendo uma brincadeira ou outra durante as reuniões.  Fazendo com que algumas vezes ela tivesse de se segurar muito para não dar o braço a torcer ou acabaria rindo. O que era pura birra. Mas, uma coisa ligada a SiWon a irritava, graças ao seu carisma não demorou muito para que a população feminina da companhia de teatro começasse a reparar no rapaz. Com isso ele era constantemente o foco de conversas pelos corredores. Algumas colegas de trabalho eram até mais atiradas, fazendo com que caixas de cupcakes ‘brotassem’ de uma hora para outra na mesa dele. Ou convites, educadamente recusados, para almoços. Essa ultima parte a intrigava, já que SiWon sempre recusava os convites com a desculpa de que já havia combinado de ir a um restaurante com HeeChul. Lele não conseguia acreditar que ele preferia um cara as “Marias Gravatas”.  Aquilo era no mínimo estranho, e, o irônico disso tudo é que mesmo sem saber o motivo ela aprovava essas recusas.
Lang man mei tian fen Fan ying gou chi dun... Bu gou qing sheng Hua tiao cuo yan se...Dan hen mao dun Xi huan ni de ben… -- Kelle estava guardando algumas coisas antes do almoço enquanto cantarolava a música que não queria sair de sua cabeça. Isso já estava irritante.
– Você conhece Feilunhai!? – SiWon perguntou fazendo com que a garota desse um pulo, já estava encostado na porta a um tempo observando-a.
Kelle se virou para ver quem era o idiota que havia assustado a e deu de cara com SiWon. – Nunca lhe disseram que é falta de educação assustar as pessoas!?
– Desculpa, eu só estranhei você cantando.
– Porque, é proibido agora? – seu humor com certeza não estava dos melhores.
SiWon bufou, passando a mão na nuca. A única coisa que pensou foi que agora e pelo menos ela estava falando com ele.
– Não, não é proibido. – respondeu ele calmo e continuou antes que ela voltasse a falar. – O que quis dizer foi que estranhei você cantando essa música especificamente.
A escolha de palavras a afetou um pouco, o final do trecho que ela estava cantando parecia de uma maneira muito sinistra lembrar os dois. “Os dois? Não existe nós dois aqui!” – ela fez uma careta para o pensamento. “Que raios eu tô pensando!?”
– Kelle?
– Eu conheço Feilunhai faz um tempo, e essa música não quer sair da minha cabeça hoje. Satisfeito? – Respondeu um pouco estressada.
– Para falar a verdade, muito. – disse com um sorriso pretencioso, virou as costas e saiu da sala.

-X-

Nota da Autora: A tradução da letra é: "Seu romantismo é ultrapassado e suas respostas são muito previsíveis. Sempre muito descuidado acaba escolhendo as flores que eu não gosto. Para mim é um pouco irônico, mas a verdade é que eu gosto desse seu jeito..."





Deixe um comentário